Uma ausência de resoluções

O filme do realismo capitalista

Até, 2023

Danilo Bortoli

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1.

Segundo o Apple Music, a canção que mais escutei esse ano — e, dita a verdade, a minha favorita de 2023, foi “So Right”, da Carly Rae Jepsen, do The Loveliest Time, um álbum compilado de b sides dela desse ano.

Hoje mais cedo, nessa véspera de Ano Novo, tirei o começo do dia para pensar em mim musicalmente. Já digo há anos que não presto mais tanta atenção em música como fazia tempos atrás — e confesso que minha forma de pensar nela mudou bastante. Passou de algo mais obcecado para algo mais humano. A música deixou de ser um exercício fútil e intelectual e agora é, verdadeiramente, parte da minha vida. Há uma sensação de cristalização dessa narrativa.

2.

Pensando bem, uma canção que não saiu dos ouvidos esse ano foi “Hearts Aglow”, da Weyes Blood, por motivos que a própria letra explica bem claramente:

I’ve been without friends
Oh, I’ve just been working
For years and I stopped having fun
Oh, but baby, you’re the only one
Who would drive me down to the pier
Takе me up on that ferris wheel

3.

O maior evento cultural desse ano da desgraça de 2023 consistiu na campanha de marketing que foi Barbie. Confesso que possuo sentimentos ambivalentes em relação ao filme. Preciso fincar a minha opinião no fato de que o filme é a maior expressão de realismo capitalista, o epíteto do que Mark Fisher idealizou para explicar como e o porquê de ser mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo per se.

Apesar de tudo isso, “What Was I Made For?”, de Billie Eilish, quebra a quarta parede de todo o cinismo da crítica conveniente capitalista ao próprio capitalismo que o filme acaba por entregar. Foi uma grata surpresa.

4.

Como disse, não escutei música com tanto afinco assim ao longo de 2023. Um salve especial para Caroline Polachek, que fez meu álbum favorito do ano.

De mais, que venha 2024.

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